domingo, 25 de outubro de 2009

O Rio (de novo) carnavalesco e performático




Confirmando o que disse em postagem neste blog alguns dias atrás, os cariocas parecem presos a estratégias antigas e desgastadas para lidar de maneira prática e eficaz com seus problemas. segue a nota com as fotos publicadas pela imprensa sobre a nova escalada da violência no Rio de Janeiro.


"Mais uma vez os cariocas pedem paz
Foto: Michel Filho/O Globo

De Taís Mendes:
O movimento Rio de Paz Cerca promoveu neste sábado, na orla de Copacabana, uma manifestação contra a violência. Com vinte carrinhos de supermercados carregando manifestantes com máscaras brancas, o grupo reproduziu a imagem de um homem assassinado no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, deixado dentro de um carrinho, que ganhou a primeira página de vários jornais na semana passada. Leia mais em Manifestação na orla de Copacabana reproduz corpo deixado em carrinho no Morro dos Macacos ."


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A MAÇÃ


Todo trabalho humano,

Para ter algum valor,

Exige sacrifício.

Afinal, o mundo estava pronto,

Por ofício de Nosso Senhor,

E viver era só questão de ócio.

Quem foi que disse

Que reinventá-lo

Seria fácil?

domingo, 4 de outubro de 2009

O Rio 2016 e a redenção pelo Carnaval


Há algumas décadas, o município do Rio de Janeiro sofre com problemas econômicos e sociais. E já se tornou comum atribuí-los à transferência da capital federal para Brasília, em 1960. De centro das decisões do país, lugar de belezas paradisíacas e usina das manifestações culturais mais emblemáticas do país, em 50 anos o Rio foi se transformando num cenário de lamentáveis degradações, mais lamentáveis sobretudo pelo fato de ser a cidade-símbolo do Brasil.


A despeito disso, o Carnaval manteve-se como forte paixão cultural e um importante motor econômico e social da sociedade carioca. Mais do que isso, o carnaval perdura como a matriz das realizações do Rio, como um modelo de disciplina para o trabalho. É o caráter carnavalesco, e não uma disposição pura e simples para construir e reconstruir, que parece predominar na cultura carioca. Pelo prêmio de uma noite na avenida e da possível vitória da sua escola, o carioca se atira ao trabalho duro, ainda que a imagem do samba remeta a preconceitos relacionados com a preguiça.


O trabalho para a festa mobiliza. O trabalho pelo trabalho, como um dever moral acima de qualquer outro, válido em si mesmo, não parece entusiasmar muito. E isso não tem nada que ver com desocupação. Todos os dias, o carioca vai ao trabalho. Entretanto, a construção, e principalmente a reconstrução, exigem mais do que assiduidade: exigem um esforço além do usual, como o daqueles europeus que reergueram cidades inteiras destruídas por bombardeios.


O trabalho para o carnaval é o trabalho com vistas à redenção, originalmente pelas comunidades pobres dos morros. Mas isso impregnou igualmente os costumes da cidade como um todo e, de certa maneira, os do país. O Rio é, desse modo, cidade sempre à espera de um grande evento redentor. E talvez seja mais do que coincidência ter como um de seus símbolos maiores o Cristo de braços abertos sobre a Baía de Guanabara.


Muito se tem discutido sobre como reerguer a cidade economicamente; livrá-la das chagas sociais da miséria e da criminalidade; e devolver-lhe parte do que foi perdido em termos ambientais. Passaram prefeitos e governadores; presidentes da República fizeram promessas; cidadãos conscientes organizaram protestos nas praias e abraçaram coletivamente a poluída Lagoa Rodrigo de Freitas. Nada disso teve uma efetividade em larga escala. E o pior, o Carnaval, por si só, não foi capaz de redimir o Rio.


Agora, o esforço e a boa circunstância, fizeram surgir uma nova meta: a realização dos Jogos Olímpicos daqui a sete anos na Cidade Maravilhosa. Entra, pois, novamente em cena a vertente carnavalesca do trabalho como a única possibilidade viável para o Rio. Unidos em torno da ideia, políticos, esportistas e personalidades comemoram com o entusiasmo de garotos a vitória da cidade no certame para a escolha da sede dos jogos de 2016. Muitos deles choraram copiosamente, como numa final de copa do mundo. E era mais do que em razão do ideal alimentado desde a Grécia Antiga. O que se espera agora é que se acenda a chama de mais um grande, inesquecível e redentor desfile.


Abaixo a letra do samba da Portela de 2007 em homenagem aos jogos Panamericanos

Os Deuses do Olímpo Na Terra do Carnaval: Uma Festa do Esporte, Saúde e Beleza
Composição: Diogo Nogueira, Ciraninho e Celsinho de Andrade
"O mensageiro do Olimpo anunciou:

É Carnaval! Brasil, hoje é a Terra dos Deuses Lindo paraíso tropical

A majestade do samba Acende a chama e recebe as nações

Seu manto cobre o Rio de Janeiro

Chegou a hora de unir os corações

Voa minha águia leva o meu cantar

Semeando a paz pelas Américas

O show do Pan vai começar
Sou recordista de samba no pé

Exemplo de garra e fé

Medalha de ouro em bateria

Eu sou atleta e canto até raiar o dia
O homem lutou por fronteiras

Por seus interesses, religiões...

Hoje suplanta barreiras,

Desfaz preconceitos, juntando nações...

Esporte é vida! É beleza e emoção

É esperança, amizade, inspiração

Portela, de azul e branco em aquarela

Supera todos os limites

Vem levantar sua bandeira

O samba, de alma verde e amarela

Abençoado pelos deuses

Vem coroar Oswaldo Cruz e Madureira

Eu sou a raiz do samba Saúde e beleza na Passarela

O Ninho da Águia, celeiro de bambas

Sou Rio, sou esporte e sou Portela."