sexta-feira, 31 de julho de 2020

Memórias de um velho lobo

Cidade do DF que traz o Guará em seu nome tem importante espaço ambiental

Lugar de intensa vida comunitária, foi até os anos 1980 o paraíso da amizade e das festas
As terras onde foi implantada a cidade do Guará faziam parte da antiga Fazenda Bananal, então pertencente ao município de Planaltina-GO. O nome tem como origem o Córrego Guará, que banha a região, e se origina do Lobo Guará, espécie comum no cerrado brasileiro. A palavra Guará deriva do tupi auará, significa “Vermelho” e é associada tanto ao Lobo-Guará quanto à Ave-Guará.
Quando criança e adolescente andei por esses cerrados em torno da cidade para pegar varetas de buriti ou cajuzinho. Ou simplesmente pra perambular. Não fosse o Parque Ezechias Heringer, as pressões imobiliárias e rodoviaristas teriam tornado o local bem mais inóspito.



Testemunhando recentemente uma série de modificações nas destinações de uso de casas e edifícios da cidade, pude perceber o quanto o projeto urbanístico do Guará, embora modesto, era interessante, com quadras moduladas, mas de feitio orgânico, especialmente no Guará I, onde vivi dos 12 aos 35 anos.
Muita coisa bacana aconteceu ali: amizades, vida familiar, festas, amores, descobertas diversas. Ainda hoje o pessoal do Guará é bem unido, mesmo na distância. E vejam que era uma comunidade heterogênea culturalmente e do ponto de vista sócio-econômico, com pessoas vindas de vários estados brasileiros, principalmente do Norte e Nordeste, de Goiás e Minas Gerais. Nos primeiros tempos, havia ali funcionários públicos de baixo e médio escalão, inclusive do aparelho policial, professores, pequenos empresários, barbeiros e vendedores ambulantes, marceneiros, borracheiros e uma pequena parcela de engenheiros e arquitetos que participaram da construção da cidade. Todo esse contingente teve direito a casas maiores ou menores, dependendo da renda, com financiamento a custos baixíssimos.

Muitas ruas só vieram a recebera calçamento muito tempo depois de inaugurada a cidade. Até os anos 80 do século XX viveu-se ali uma vida bastante interiorana, com muito proximidade, mesmo entre pessoas de quadras não tão próximas. Uma das razões era a congregação por meio de atividades religiosas, sendo a principal delas na Igreja de São Paulo Apóstolo, em torno da qual se montaram grupos de jovens e adolescentes, e o clima festeiro do Guará, que levava a peregrinações de fim de semana em busca de divertimento em casas de família, nos quais era difícil sermos barrados, independentemente de não termos sido convidados, por causa da influência dos amigos e de amigos de amigos.


O Guará dos anos 1980. Ao fundo, os eucaliptos da EPTG, hoje retirados

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